quinta-feira, 12 de agosto de 2010

As duas


Os olhos abriram-se rápidos. Precisava ir ao banheiro. Levantou-se com dificuldade. O corpo inteiro doía. Do quarto ao banheiro parecia haver uma distância interminável. Quando chegou ao lavabo, pode ver seu rosto pálido no espelho. Sentiu as mãos tremerem. Estava muito fraca.
Da janela da cozinha, podia ver as folhas secas no jardim. Estivera ausente de sua casa por três dias e ninguém se importara com as plantas.
Quando abriu a porta da geladeira, um estranho ruído veio do quarto. Arrepiou-se. E agora? Estava sozinha em casa. Não havia almoço no fogão. Precisava comer algo. De repente, o ruído se fez mais forte. Caminhou lentamente de volta ao quarto. Espiou. Estavam lá. Eram duas. Pensou em pedir socorro. Inútil, sua casa era a única construída naquele condomínio novo. O ruído aumentava mais e mais. Elas agora a procuravam. Trancou-se no banheiro.
Bateram à porta:
- Clara? Trouxe seu almoço.
Silêncio. Empurrou a porta vagarosamente. Estava caída no chão. O marido a ergueu. Ela cochichou em seu ouvido:
- Olhe, elas estão ali!
O marido estranhando o comportamento da esposa, olhou para o aposento:
_ Elas?
Clara, então, correu até a cama. As duas se mexiam. Estavam com certeza a sua espera. Num ímpeto, debruçou-se sobre as perninhas da filha recém-nascida. Tão frágeis e magrinhas, pensou, por onde iriam pela vida aquelas perninhas?
Às onze horas, um choro profundo de mãe rompia a quietude daquela manhã de abril.

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