quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Sexta é dezesseis

 
 
 

      Sexta é dezesseis de agosto. Estou a  um dia dos meus quarenta e cinco anos. 
      Quando era adolescente havia entre meus quinze anos e meus quase cinquenta uma vida invisível.
     Nasci no mês do cachorro louco ou o mês do desgosto como muitos dizem. Privilegiando os ditos populares, o  fato é que de louco e desgosto todo mundo tem um pouco.
       Engraçado é perceber como nossa memória vai se modificando e como o tempo vai apurando algumas lembranças e escondendo-as em algum lugar de nosso cérebro, para renascerem  numa tarde qualquer, ao fechar os olhos. 
       Hoje, algumas lembranças surgiram, época de três a  sete anos de idade: um pé de pitanga; minha mãe costurando dia e noite; a casa nova em que nos mudamos, sem janelas, sem cimento, sem piso, sem água, sem luz;  a luz nos olhos de meus pais compensando tudo.
      Mas uma lembrança em especial desenhou-se em meus olhos,  a ponte sobre o rio que separava minha casa da escola, e que eu chorava todos os dias para atravessar. Chorava porque a ponte era um tronco roliço e não havia corrimão, se o corpo desequilibrasse, lá se ia uma criança loirinha na correnteza do rio.  
      Talvez tenha passado tempo demais da vida com medo de pontes, por ter ficado algum trauma ou coisa parecida. 
       Sexta é dezesseis.  E o que são os anos em nossas vidas? São pontes ligando o que foi e o que será  e são tão instáveis e inseguras como aquela ponte da minha infância,   que todos os dias tinha que atravessar para deixar meu mundo particular e adentrar em um mundo povoado de saberes desconhecidos.