quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rumo









Um pedaço de papel 
ditava o destino 
de sua vida

sábado, 9 de junho de 2012

Estranhamente



     Quando eu era criança tinha a mania de estranhamento. Às vezes andava pela rua e estranhava as casas, pareciam coisas de outro mundo. Como as paredes podiam esconder pessoas, pensamentos, sentimentos?                  O mundo nessas horas parecia abandonado, e eu pensava para que servem as pessoas? Então, começava a estranhar as pessoas, os jeitos, as vozes, os cabelos as roupas e eu parecia não pertencer  a terra, me sentia um visitante que iria partir a qualquer hora.
     Passei a estranhar o silêncio. O silêncio era um fundo escuro e profundo que engolia tudo. A noite era longa nessas horas e eu ouvia o silêncio dialogando com a escuridão.
    Em outros momentos eu me via bem pequena e o mundo gigante. Tentava tocar as coisas, mas elas pareciam muito, muito distantes de mim, parecia que eu não existia em corpo físico.
     Estranhava as estrelas e o céu escuro. O céu cairia a qualquer hora sobre minha cabeça. E como a terra, era terra, se era ar?
     
      Esses estranhamentos todos cresceram  junto comigo, tomaram outras formas, passaram a ocupar outros espaços, mas a sensação desta vida ser estranha a mim nunca me abandonou.


        


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Esquadros - Adriana Calcanhoto









Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

sexta-feira, 1 de junho de 2012