quarta-feira, 27 de novembro de 2013

urgências

Sofro de urgências vencidas
a pilha de livros inacabados no canto do quarto
a palavra que passou sem ser ouvida
a canção que não pude cantar
a viagem que  não fiz
o olhar que não pude ver
passa  vento
pelos meus cabelos
despenteia o encanto
 carrega este  tempo insensato
 que impregnou
nos contornos do meu corpo


sábado, 14 de setembro de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

mulher rendeira






 

Hoje eu quero ser mulher rendeira

e tecer

 tecer sem pensar em nada

 ver apenas o encontro de pontos e linhas

sentir flores brancas

voarem de minhas mãos








domingo, 1 de setembro de 2013

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Sexta é dezesseis

 
 
 

      Sexta é dezesseis de agosto. Estou a  um dia dos meus quarenta e cinco anos. 
      Quando era adolescente havia entre meus quinze anos e meus quase cinquenta uma vida invisível.
     Nasci no mês do cachorro louco ou o mês do desgosto como muitos dizem. Privilegiando os ditos populares, o  fato é que de louco e desgosto todo mundo tem um pouco.
       Engraçado é perceber como nossa memória vai se modificando e como o tempo vai apurando algumas lembranças e escondendo-as em algum lugar de nosso cérebro, para renascerem  numa tarde qualquer, ao fechar os olhos. 
       Hoje, algumas lembranças surgiram, época de três a  sete anos de idade: um pé de pitanga; minha mãe costurando dia e noite; a casa nova em que nos mudamos, sem janelas, sem cimento, sem piso, sem água, sem luz;  a luz nos olhos de meus pais compensando tudo.
      Mas uma lembrança em especial desenhou-se em meus olhos,  a ponte sobre o rio que separava minha casa da escola, e que eu chorava todos os dias para atravessar. Chorava porque a ponte era um tronco roliço e não havia corrimão, se o corpo desequilibrasse, lá se ia uma criança loirinha na correnteza do rio.  
      Talvez tenha passado tempo demais da vida com medo de pontes, por ter ficado algum trauma ou coisa parecida. 
       Sexta é dezesseis.  E o que são os anos em nossas vidas? São pontes ligando o que foi e o que será  e são tão instáveis e inseguras como aquela ponte da minha infância,   que todos os dias tinha que atravessar para deixar meu mundo particular e adentrar em um mundo povoado de saberes desconhecidos.

      

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Vegetalização








  Meu pé de manacá pela primeira vez atrasou a florada. Deve estar ficando cansado. Hoje ao acordar, num dia frio do mês de junho, a primeira flor surgiu. Pequenina e branca como são todas as flores da sua espécie quando nascem. Amanhã, estará me surpreendendo com uma cor mais rosada, e assim com o passar dos dias, estará em constante mudança. Até que numa hora qualquer, as flores, invisíveis, porque ninguém admira flores murchas, cairão. 
        Nesta mesma manhã fria, eu e o meu pé de manacá, um de frente para outro, conversamos. O café fumegante que tomava, chegou até ele, ofereci-lhe então um gole de água e ficamos os dois imóveis, num diálogo telepático de velhos amigos. Para me alegrar ele me presenteia com flores, e eu o contemplo com gratidão.
          Nesse instante, sem palavras, porque palavra demais cansa, penso na humanização. Sempre que vou a um lugar e as pessoas são agressivas, saio reclamando "que falta de humanização". Mas que inferno é este de humanização. Uma vez escrevi: "cansei de ser humana, preciso ser pétala". Sim, pétalas, que não ofendem, que não xingam, que não atrapalham a vida do outro,que não desprezam, que não matam. Não há sentido algum em ser humana, não há sentido algum em se dizer "precisamos humanizar as pessoas, os espaços de convivência".
          Cansei. Cansei de dizer isto. Uma frase solta, dita em uma hora de nervoso, de inconformismo. Cansei de pessoas que berram sem parar, que impõem aos nossos ouvidos músicas horríveis, que riem de tudo e de todos, quando na verdade nem sabem do que riem. Cansei do médico que  atende com cara de nojo. Cansei de quem não se importa com quem pede socorro.  Cansei de quem troca pessoas por objetos.
              Diante de tamanho cansaço, só posso dizer  que não precisamos de humanização, precisamos mais que tudo de vegetalização.

domingo, 5 de maio de 2013

Composição

Componho-me em coisas pequenas, discretas, quase imperceptíveis
em  asas de pássaros que riscam o espaço perto dos meus olhos
 na dança das borboletas
 que nascem  no meu quintal.
 Componho-me em olhares distantes
 em estradas perdidas
 em esquinas desamparadas.

E em meio ao acaso de composições tão singulares
 é que percebo
que há um espaço inatingível
 entre o que sou e o que fui.


Felicidades esquecidas 
nas cantigas de roda da infância
na amarelinha riscada na rua
no sinal da escola
no fim de tarde ocioso
nos papos adolescentes à beira mar.

Felicidade hoje?
Processo indefinido,
 mutante,
em constante construção.

quarta-feira, 6 de março de 2013

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Silêncio








O silêncio vem em gotas

engulo com receio seus pingos

que entranhando pela carne

me faz sorrir  

sim, meus amigos, 

o silêncio é feito de encantamentos