sexta-feira, 7 de junho de 2013

Vegetalização








  Meu pé de manacá pela primeira vez atrasou a florada. Deve estar ficando cansado. Hoje ao acordar, num dia frio do mês de junho, a primeira flor surgiu. Pequenina e branca como são todas as flores da sua espécie quando nascem. Amanhã, estará me surpreendendo com uma cor mais rosada, e assim com o passar dos dias, estará em constante mudança. Até que numa hora qualquer, as flores, invisíveis, porque ninguém admira flores murchas, cairão. 
        Nesta mesma manhã fria, eu e o meu pé de manacá, um de frente para outro, conversamos. O café fumegante que tomava, chegou até ele, ofereci-lhe então um gole de água e ficamos os dois imóveis, num diálogo telepático de velhos amigos. Para me alegrar ele me presenteia com flores, e eu o contemplo com gratidão.
          Nesse instante, sem palavras, porque palavra demais cansa, penso na humanização. Sempre que vou a um lugar e as pessoas são agressivas, saio reclamando "que falta de humanização". Mas que inferno é este de humanização. Uma vez escrevi: "cansei de ser humana, preciso ser pétala". Sim, pétalas, que não ofendem, que não xingam, que não atrapalham a vida do outro,que não desprezam, que não matam. Não há sentido algum em ser humana, não há sentido algum em se dizer "precisamos humanizar as pessoas, os espaços de convivência".
          Cansei. Cansei de dizer isto. Uma frase solta, dita em uma hora de nervoso, de inconformismo. Cansei de pessoas que berram sem parar, que impõem aos nossos ouvidos músicas horríveis, que riem de tudo e de todos, quando na verdade nem sabem do que riem. Cansei do médico que  atende com cara de nojo. Cansei de quem não se importa com quem pede socorro.  Cansei de quem troca pessoas por objetos.
              Diante de tamanho cansaço, só posso dizer  que não precisamos de humanização, precisamos mais que tudo de vegetalização.

2 comentários:

  1. Que encanto de blog!!!
    Maravilhoso, muito rico em diversidades...
    são poemas seus?
    Parabéns, quanto você tem para nos auxiliar...
    Abraços

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  2. Oi, Ana Paula!

    Que prazer tê-la neste espaço. Sim, os poemas são meus. Pouquíssimos não são, mas sempre dou os devidos créditos.

    Um abraço!

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