domingo, 16 de dezembro de 2012

Além de tudo

E quando  as portas brancas se abriram naquela incomum manhã de sol, não havia  ali quem pudesse lhe dizer onde estava, então sentiu um luar descer sobre seus olhos e o frio guardado da madrugada envolveu-lhe os longos cabelos.
O coração já não sentia as dores de fora e expelia as dores de dentro. Talvez fosse naquele exato instante o reencontro com o real sentido da vida.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Conversa com criança





_ E se a vida parar?
_ Você dá um empurrão nela e ela anda.
_ E se eu não puder andar?
_ Aproveita e brinca de estátua.
_ E se a estátua quebrar?
_  Pede pra sua mãe beijar que os cacos se colam. 
_ E se ...
_ Ah, cansei ... você fala demais ... vamos brincar?


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Antes da partida









Preciso correr
há coisas fora do lugar
o luar não me acompanha mais
o vento tem passado fraco
e as horas quentes 
já não queimam minha pele   

Preciso correr
colocar tudo no espaço certo
documentos perdidos nas gavetas
livros caídos no chão
roupas sujas na varanda

Preciso correr
tapar vazamentos
o portão emperrado
a parede sem janela

Preciso correr
abraçar velhas amigas
unir pai e filhos
abençoar a cria

Preciso correr
pedir a benção aos céus
beijar o chão
erguer as mãos
aprender a voar 
para não ver o tempo
 me levar

sábado, 29 de setembro de 2012

Preciso me encontrar - CARTOLA








Preciso me Encontrar
Letra: Candeia
Música: Cartola
Album: Cartola (1976)

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois que eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois, depois
Que eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois, depois
Depois que eu me encontrar...

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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Lampejo

Era tarde e a saia leve voava sob o reflexo da lua.
Estrelas vazias sem memória mergulhavam na quietude da noite.
Tristeza era estar ali no alto da montanha e nada ver.
Tristeza era esconder-se debaixo dos crimes do sol e da lua e não reconhecer a chegada da manhã.
Tragos de lucidez, de vez em quando, iluminavam os pensamentos mortos e nessas horas tão lentas, os pés caminhavam em direção ao desconhecido.
Sutilezas do espírito que deixava  transparecer um risco de alegria na bêbada e louca escuridão.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rumo









Um pedaço de papel 
ditava o destino 
de sua vida

sábado, 9 de junho de 2012

Estranhamente



     Quando eu era criança tinha a mania de estranhamento. Às vezes andava pela rua e estranhava as casas, pareciam coisas de outro mundo. Como as paredes podiam esconder pessoas, pensamentos, sentimentos?                  O mundo nessas horas parecia abandonado, e eu pensava para que servem as pessoas? Então, começava a estranhar as pessoas, os jeitos, as vozes, os cabelos as roupas e eu parecia não pertencer  a terra, me sentia um visitante que iria partir a qualquer hora.
     Passei a estranhar o silêncio. O silêncio era um fundo escuro e profundo que engolia tudo. A noite era longa nessas horas e eu ouvia o silêncio dialogando com a escuridão.
    Em outros momentos eu me via bem pequena e o mundo gigante. Tentava tocar as coisas, mas elas pareciam muito, muito distantes de mim, parecia que eu não existia em corpo físico.
     Estranhava as estrelas e o céu escuro. O céu cairia a qualquer hora sobre minha cabeça. E como a terra, era terra, se era ar?
     
      Esses estranhamentos todos cresceram  junto comigo, tomaram outras formas, passaram a ocupar outros espaços, mas a sensação desta vida ser estranha a mim nunca me abandonou.


        


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Esquadros - Adriana Calcanhoto









Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

sexta-feira, 1 de junho de 2012

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Temporal II





Gosto de ver temporais
 Nuvens negras se formando sob o céu azul
e logo a escuridão descendo sua capa
 A chuva fria e forte lavando tudo
lavando almas
misturando-se em lágrimas

Gosto de sentir o vento forte do temporal
 contrastando com a fraqueza dos mortais

Gosto do cheiro brotando da terra
aos primeiros pingos da chuva

Incríveis são os temporais que arremessam pelos campos
farpas
atravessando o manto prateado

Gosto de ver temporais clareando olhares
e as bocas assustadas
buscando silenciar
as batidas aceleradas
de corações
anoitecidos

sexta-feira, 4 de maio de 2012

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ser em seres


Sou assim feito grão de areia
que sobe ao ar carregado pelo vento forte
e passa arranhando os olhos verdes
do marinheiro à beira mar

Sou assim igual a rodopio de criança
que tenta alcançar o céu
com os braços entrelaçados no ar

Sou assim como bailarina
que dança contendo
o sangue na ponta dos pés

Sou assim feito cheiro de terra
molhada pela chuva fina

Sou assim risos
em encontros desesperados
Sou assim choro
em partidas inesperadas

Sou assim ... pássaros
Sou assim ... gaiolas
Sou assim ... ser em vários seres

domingo, 11 de março de 2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012


Vagueia minha mão no espaço
tateanto o vento forte que amansa o mar
venha fé me encontre neste círculo
encoste-me na parede
levante-me deste chão de pedra
faça-me sumir no espaço
acalme minha alma
enche-me de sabores
livra-me dos desamores

Venha fé
permita-me ser uma mulher enluarada
que se curva frente à noite mortal
quero desprezar este fel
e acolher as nuvens mansas


Venha fé
como uma amiga sumida
que retorna para acalentar o coração
dê-me novos dias
novos rumos
sare meus pés cansados
desta estrada inacabada

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Criei um tapete colorido sob seus pés
para que nele caíssem todas as palavras insanas
ditas pela sua boca
Criei uma nuvem passageira para
livrá-lo das crises terríveis
Criei um sol para aquecer seus pensamentos frios
mas não consegui criar um porto seguro
e todas as noites vagueio
na beira do cais
esperando
sua chegada

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fim




E a cada estação
tudo era menos
o olhar mais raro
o contato menor
as palavras engolidas
as lembranças ressentidas
a saudade esquecida
e o coração apavorou-se
diante do nada

domingo, 29 de janeiro de 2012



Ao longe o mar

Porto calmo de abrigo
De um futuro maior
Inda não está perdido
No presente temor

Não faz muito sentido
Já não esperar o melhor
Vem da névoa saindo
A promessa anterior

Quando avistei
Ao longe o mar
Ali fiquei
Parada a olhar

Sim, eu canto a vontade
Canto o teu despertar
E abraçando a saudade
Canto o tempo a passar

Quando avistei
Ao longe o mar
Ali fiquei
Parada a olhar

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Descoberta


- Olhe para o alto, olhe para o alto - disse-me ela segurando minha cabeça firmemente. Por que olha tanto para baixo? Olha que lindo o céu azul e as pontas verdes das ávores.
- Não posso olhar para o alto - respondi-lhe. O rio corre sob meus pés e eu não posso deixar de acompanhá-lo.
- O rio nunca deixa de correr, ele estará sempre sob seus pés, mas o céu azul logo se dissipará, o verde cairá no outono, então olhe para o alto agora.
E foi naquela tarde incomum, que ela, aos noventa anos , me fez enxergar aquilo que eu já não acreditava mais.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Rápido demais



Rápido demais a vida
rápido demais a chuva
rápido demais o encanto
rápido demais a nuvem


gira gira este mundo rápido demais
rápido demais não estarei aqui
rápido demais este cansaço
e tudo já é ontem

rápido demais os anjos passam por mim
rápido demais o fim de qualquer coisa

Todos os extremos de tudo o que existe
são rápidos demais


domingo, 1 de janeiro de 2012

Um trem além de mim


Preciso tirar estes trilhos de trem debaixo de meus pés, porque enquanto meus olhos insistem em olhar para o nada, além desta ferragem, um trem cruza a curva da estrada .

Talvez ele espante este temor de saber que a vida não se esconde só no céu azul, mas também nas nuvens negras de temporais.

Não quero dormir sobre estes trilhos de trem que teimam em me perturbar nas noites frias porque além da gélida mão que pousa no lençol, há um sol quente ao norte derrubando ressentimentos inúteis.

A grande verdade é que lutar contra os trilhos do trem pode ser mais perturbador do que lutar contra a vida que tenta nascer.