quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O sentido da vida



Duas folhas caem ao mesmo tempo do mesmo galho. Uma ainda verde, cheia de vida, desce rápida e para estática no chão frio do fim da madrugada. A outra folha, já seca e à beira da morte, desce suave e vagarosamente, pousando como pluma no mesmo chão gélido.

São cinco horas da manhã e na ruazinha silenciosa as duas folhas adormecem, embaladas pela canção dos primeiros pássaros que despertam.

O vento de outono passa. Outras folhas caem, tanto verdes, quanto secas, mas nenhuma fica em par, como as que caíram primeiro.

Às seis horas da manhã, uma dona-de-casa , trazendo uma mangueira enrolada à mão, aparece à calçada, despertando as folhinhas com um jato feroz de água. Tenta raivosamente se livrar das duas, e enquanto pratica a ação, pensa na vida e em toda sujeira que tem que limpar todos os dias, num frenético e incansável ritual . As folhas passam, para a calçada do vizinho, “missão cumprida”, pensa a mulher.

O vizinho atrasado como sempre, tira o carro. Insensível a qualquer coisa que não seja o trabalho, passa por cima das folhinhas, que se agarram desesperadamente ao pneu. Que aventura para elas que nunca viram além da sua própria árvore. Agora observam a fumaça, o céu cinzento, as pernas apressadas, as buzinas enlouquecidas, os motoqueiros, as rodas, rodas, rodas ... e .... desavisadas caem do pneu, tontas ainda, ficando ali esquecidas.

À tarde, , as duas permanecem ainda no mesmo lugar, e ainda lado a lado. O vento de outono passa novamente, a folha verde se mantém no mesmo lugar, a folha seca voa calmamente, dançando pelo ar, leve, muito leve. Um fotógrafo eterniza esse momento, e ilustra seu mais novo livro com a imagem da folha seca no ar.

Ao amanhecer a folha verde é recolhida por uma mulher que a coloca no meio de seu livro de poemas. Ficará ali, convivendo com as palavras, até secar.

A folha verde e a folha seca, a dona-de-casa e seu vizinho, o fotógrafo e a mulher. Qual o sentido de vida para eles? Todos possuem o mesmo ciclo de vida. Ciclos são repetitivos e encerram a mesma antítese de nascer e morrer, mas o sentido que se dá à vida de cada um é único para cada ser. Assim como não há fisicamente um ser igual ao outro, não há um sentido de vida igual ao outro e é isso que faz toda diferença na existência de cada um de nós.

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