quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um pé de manacá


Brota inocente e tímido, um pé de manacá em meio à Avenida Paulista. Desavisado, não percebe que na loucura do dia a dia, suas formas singelas dominam olhares apressados.
Aviões cruzam o céu, levando sonhos sem destino. As nuvens se revezam num inconstante vai e vem. O sol queima pensamentos inacabados.
O pé de manacá olha o azul infinito e implora uma gota d'água. O sertão de pedra não tem piedade, mas a criança tão inocente quanto a árvore derrama-lhe um punhado de água trazido em suas mãozinhas.
Passam dias e noites. Lindo o manacá sobrevive com o que a natureza lhe oferta. Como uma criança abandonada, aguarda resignadamente uma mão abençoada que lhe dê atenção.
Porém, desavisado da própria beleza, não percebe que os primeiros botões surgem. Inibidos, esperam a hora do ato final.
Em meio aos vultos negros que rondam a cidade, e ao barulho de guerra da imponente metrópole, as pétalas, verdadeiras asas de anjos, aparecem estonteantes.
O pé de manacá vai aos poucos, como um camaleão, se transformando de mendigo em rei. Rouba a cena.
Incrível cenário, e como se não houvesse mais o que despertar nos sentidos adormecidos, ainda é reservado um mistério embriagador: as flores verdadeiras fadas, nascem brancas, dormem rosas, acordam liláses. Completo espetáculo de Deus.
Impossível até mesmo para as almas mais inquietas e imperfeitas não atentar para as cores vibrantes da vida.
Após semanas, as flores despedem-se, deixando caídas nas calçadas pequeninos lembretes de vida.
A figura solitária do pé de manacá continuará a brilhar durantes as noites, marcando a presença anunciada de um novo espetáculo, assim que os céus permitirem.

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