
     Brota inocente e tímido, um pé de manacá em meio à Avenida Paulista. Desavisado, não percebe que na loucura do dia a dia, suas formas singelas dominam olhares apressados.
Aviões cruzam o céu, levando sonhos sem destino. As nuvens se revezam num inconstante vai e vem. O sol queima pensamentos inacabados.
    O pé de manacá olha o azul infinito e implora uma gota d'água. O sertão de pedra não tem piedade, mas a criança tão inocente quanto a árvore  derrama-lhe um punhado de água trazido em suas mãozinhas.
    Passam dias e noites. Lindo o manacá sobrevive com o que a natureza lhe  oferta.  Como uma criança abandonada, aguarda resignadamente uma mão abençoada que lhe dê atenção.
    Porém, desavisado da própria beleza, não percebe que os primeiros botões surgem. Inibidos, esperam a hora do ato final.
    Em meio aos vultos negros que rondam a cidade, e ao barulho de guerra da imponente metrópole, as pétalas, verdadeiras asas de anjos, aparecem estonteantes.
    O pé de manacá vai aos poucos, como um camaleão, se transformando de mendigo em rei. Rouba a cena.
    Incrível cenário, e como se não houvesse mais o que despertar nos sentidos adormecidos, ainda é reservado um mistério embriagador: as flores verdadeiras fadas, nascem brancas, dormem rosas, acordam liláses.  Completo espetáculo de Deus.
    Impossível até mesmo para as almas mais inquietas e imperfeitas não atentar  para as  cores vibrantes da vida.
    Após semanas, as flores despedem-se, deixando caídas nas calçadas pequeninos lembretes de vida.
   A figura solitária do  pé de manacá continuará a brilhar durantes as noites,  marcando a presença anunciada de um novo espetáculo, assim que os céus permitirem.